Turquia: a canábis medicinal vai ser autorizada em breve?
A Turquia pode estar a dar um passo decisivo para a legalização da canábis medicinal. Um projeto de lei acaba de ser...
O canabidiol (CBD), uma substância não psicotrópica extraída do cânhamo, está no centro de numerosos debates jurídicos em toda a Europa. Enquanto alguns países, como a França e a Suíça, estão a adotar uma abordagem regulamentada e permissiva, outros, como a Itália, parecem estar a adotar uma linha mais restritiva. O CBD é considerado um estupefaciente em Itália? Quais são as consequências para os consumidores e retalhistas? Vejamos a situação atual, com base nas últimas decisões judiciais e nas posições assumidas pelas autoridades italianas.
A Itália foi um dos países relativamente abertos à comercialização de produtos à base de CBD, desde que estes respeitassem um teor de THC inferior a 0,5%. Esta abordagem levou ao aparecimento de um mercado dinâmico de produtos derivados do cânhamo, incluindo óleos, flores e cosméticos.
No entanto, esta situação tem conhecido muitas reviravoltas. Em 2019, o Tribunal de Cassação italiano já tinha posto uma pedra no sapato ao classificar certas formas de CBD como substâncias proibidas, em particular flores e resinas. A tolerância de que gozava o CBD parecia então estar em perigo, mas o mercado continuou a operar em relativa incerteza.
A situação mudou abruptamente com o anúncio do decreto sobre a segurança, um texto adotado pelo Governo italiano num contexto de endurecimento geral das políticas de segurança interna. O objetivo oficial do decreto é lutar contra a proliferação de substâncias psicoactivas e clarificar a posição do país em relação aos produtos de canábis.
Mas, na realidade, vai muito mais longe: o CBD passa a ser tratado como uma substância estupefaciente, à semelhança da canábis com elevado teor de THC. A produção, a venda, a posse ou mesmo o uso pessoal do CBD são, portanto, proibidos, exceto num contexto médico muito estrito e com autorização expressa.
Esta alteração regulamentar não se limita a certas formas ou concentrações: todos os produtos que contenham canabidiol, mesmo a 0%, são afectados. Não se trata, portanto, de um simples ajustamento, mas de uma proibição total.
O impacto desta decisão é colossal para a economia italiana do cânhamo. Antes da entrada em vigor do decreto, a indústria do cânhamo gerava vendas anuais de cerca de 2 mil milhões de euros e empregava mais de 20 000 pessoas, nomeadamente na agricultura, na transformação industrial, na distribuição e na venda a retalho.
De um dia para o outro, milhares de empresas encontram-se numa situação jurídica e económica difícil. Os produtores, em particular, são os primeiros a ser afectados: as culturas em curso já não podem ser comercializadas, as colheitas são armazenadas sem possibilidade de serem vendidas e os investimentos já realizados perdem-se. Os pequenos agricultores, frequentemente nas zonas rurais, estão particularmente expostos a estas perdas súbitas.
Os distribuidores, por seu lado, vêem-se confrontados com rupturas de stock, contratos anulados e dificuldades de abastecimento sem precedentes. A paragem súbita das cadeias de abastecimento está a minar todo o sector, com consequências que ultrapassam largamente as fronteiras italianas.
As reacções a esta proibição súbita foram rápidas e generalizadas. Os profissionais do sector condenaram a decisão brutal, tomada sem consulta, por ser desproporcionada em relação às verdadeiras questões em jogo. Várias associações de defesa do cânhamo anunciaram a sua intenção de intentar uma ação judicial, invocando nomeadamente os princípios da livre circulação de mercadorias na União Europeia.
Este protesto não se limita ao mundo profissional. Os eleitos regionais, as colectividades locais e mesmo alguns políticos nacionais manifestaram o seu desacordo. Consideram que esta medida corre o risco de encorajar o mercado negro em vez de o combater, pondo em risco um sector económico promissor, capaz de gerar valor acrescentado e de apoiar o desenvolvimento rural.
Foi também lançada uma petição de cidadãos dirigida ao Presidente italiano Sergio Mattarella, que reúne dezenas de milhares de assinaturas. Os signatários denunciam um avanço no sentido da liberdade e apelam a um debate democrático sobre o papel do cânhamo na economia italiana.
Poderá esta decisão italiana inspirar outros países a seguir o exemplo? É uma questão séria. Ao tornar-se o primeiro país da União Europeia a proibir totalmente o CBD, a Itália está a criar um precedente jurídico e político que poderá ser utilizado como referência por outros governos que adoptem uma abordagem mais restritiva.
Em França, a venda de CDB continua a ser legal, mas sujeita a condições (variedades autorizadas, ausência de alegadas propriedades terapêuticas, etc.). No entanto, várias vozes políticas apelam a um controlo mais rigoroso, nomeadamente das flores de CBD, que são frequentemente confundidas com a cannabis de uso recreativo.
Outros países, como a Suécia e a Eslováquia, já adoptaram legislação muito rígida, se não mesmo totalmente proibitiva, em matéria de CBD. O decreto italiano poderia reforçar estas tendências restritivas, em detrimento da harmonização europeia.
O desaparecimento súbito de um ator importante como a Itália desequilibra o conjunto do mercado europeu do CBD. Os distribuidores, nomeadamente em França, que dependiam em parte do abastecimento italiano, devem agora recorrer a outros fornecedores, por vezes mais caros ou menos acessíveis.
Esta contração da oferta é suscetível de provocar um aumento geral dos preços, nomeadamente de certas variedades específicas de flores ou de extractos. Por outro lado, a procura mantém-se forte, criando uma situação de tensão no mercado.
Para compensar esta crise, alguns operadores estão a considerar a possibilidade de deslocalizar as suas actividades para países mais estáveis, como a Suíça, a República Checa ou certas regiões de Espanha. Outros estão a tentar internalizar certas fases da produção para reduzir a sua dependência de fornecedores externos.
A decisão italiana põe em evidência uma realidade incómoda: o quadro jurídico do CBD na Europa continua instável, fragmentado e aberto a interpretações. Enquanto alguns países encorajam a produção de cânhamo para o bem-estar, outros proíbem-na completamente, sem coordenação.
Um número crescente de intervenientes - produtores, distribuidores, associações e consumidores - apela à harmonização da regulamentação a nível europeu. O objetivo é assegurar o mercado, garantir uma concorrência leal e proteger os consumidores de produtos de má qualidade e de circuitos ilegais.
A harmonização é tanto mais urgente quanto o CBD continua a ser um produto com grande procura, presente em muitos domínios: saúde, cosmética, bem-estar, desporto, etc. Uma regulamentação clara encorajaria a inovação, evitando os abusos.
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